Conto - Noite macabra: o Berreta como você nunca viu!

Conto escrito por: Vitor Gabriel Bueno, Tainá Castro, Nathalia Domingos, Stéphanie Mota, Bruno Assunção

Nuvens sombrias cruzavam o céu no dia cinzento quando Nathalia sentiu um grande mal-estar. Sua respiração estava desregulada, estômago revirado.
Quando se sentiu um pouco melhor, resolveu tentar cochilar, na esperança de que isso ajudasse a resolver, sem imaginar o que aconteceria a seguir...
Um som doce soava ao longe, ecoando preguiçosamente pelo ambiente. A menina estava desconfortável, com suas pernas e braços dormentes. Mas isso não era o pior - algo pesado se mantinha no ar. Era como se o mundo estivesse prendendo a respiração, antes de soltar um grito ensurdecedor.
As costas doloridas tremeram quando seu rosto se ergueu dos braços.
                Seus olhos castanhos demoraram para focar e interpretar o que estava à frente. O ambiente encontrava-se todo escuro, apenas os raios de luz da lua penetravam as altas janelas, tocando de forma fantasmagórica as longas mesas brancas amadeiradas.
           Seu pensamento mais lógico era que havia sido esquecida no lugar onde adormecera, mas isso não fazia o menor sentido. Sua atenção voltou ao som que se repetia no refeitório... olhos encontraram uma pequena poça com um líquido negro espalhado sobre uma mesa com um pequeno filete pingando periodicamente. Pensou que poderia ser refrigerante, pelo aspecto do líquido, mas nem isso fazia sentido, após o horário em que foi deixada ali, nenhum aluno tinha acesso a aquele local.
                Uma sensação constante de estar sendo observada pelos cantos sombrios do ambiente permanece, e a garota notou que segurava uma receosa respiração e forçou-se a suspirar e levantar, cambaleante. Suas pernas, agora formigavam, por ficarem tanto tempo mal acomodadas.
                Andou o mais corretamente que pode até o meio do ambiente e passou por sua cabeça que todo aquele receio era reflexo de medos infantis, que não deveriam ditar seus atos neste momento.
                Pela lógica, a havia esquecido dentro de um cômodo da escola, provavelmente não deram uma última olhada antes de fecharem as portas. O que ela sabia era que as entradas da escola com certeza estariam trancadas, mas conhecia outras formas de sair, só precisava estar fora da construção. Deduzindo que a porta que dava acesso a quadra estaria trancada, foi para outra direção, que levava ao pátio.
Ignorou os calafrios e alcançou a gélida maçaneta, e a girou, torcendo para que não estivesse trancada. E como esperava, por ser uma porta interna, Nathalia abriu, revelando o pátio, para sua parcial felicidade.
Por mais que estivesse iluminado pela luz prateada transmitida pela lua, algo fez o seu fôlego fraquejar quando olhou para a entrada da cantina. Os cartazes (onde usualmente estava escrito “à venda”), estavam rasgados e espalhados por todo o ambiente, juntamente com mais daquele líquido, que parecia ter sido esguichado e pisoteado inúmeras vezes.
                Largando a maçaneta, que segurou por alguns segundos com sua mão trêmula e suada, deu um passo à frente.
— ATENÇÃO, ALUNOS! — uma voz soou e seu corpo sofreu um grande espasmo com o susto, seus olhos dirigiram-se mais rápido do que poderia imaginar para a fonte do barulho. Todas as caixas de som nos cantos superiores da parede reproduziram o timbre de voz da coordenadora.
— REUNIÃO DE LÍDER, NA SALA DE REUNIÕES.
Líder! A palavra ecoou como um trovão em sua cabeça, que tentava evitar chegar na sinistra afirmação: ela era líder de turma.
Respirou o mais fundo que pode, tentando se acalmar. Só podia ser um engano, ou um delírio, na realidade, devia estar sonhando... Cogitou ser apenas um sonho, tentou se convencer, dando passos vacilantes em direção aos degraus que levavam ao corredor, que por si, levava a sala de reuniões. Quer ver no que isso dará. Seus pés pisavam tão hesitantes que chegou a considerar que a gravidade tentava evitar que chegasse à sala quase ao fim do corredor.
Passou reto pela escada e, mais uma vez, prendeu sua respiração quando adentrou corajosamente o corredor extremamente escuro, apenas iluminado, parcialmente, pela porta de vidro, em seu fim.
Se ainda houvesse alguém ali, seria muito estranho o fato de tudo estar escuro, mas essa era a única perspectiva que fazia a garota dar um passo após o outro.
Não chegou a congelar na frente da porta da direção, pois estar no corredor não a fazia se sentir mais segura do que se sentiria lá dentro. A maçaneta, abençoadamente, abriu facilmente e a garota deslizou ligeiramente para dentro, sem fechar a porta.
Ali havia uma mesa longa e algumas cadeiras dispostas desorganizadas pela sala, duas portas estavam escancaradas e uma entreaberta, sendo ela, a sala de reuniões. Nesse momento ela realmente chegou a se perguntar se conseguiria entrar ali, mas não se deixou terminar de ponderar sobre isso, avançou de uma vez, empurrando a porta e entrando, torcendo para ali haver uma explicação que fizesse sentido para tudo aquilo.
Não havia ninguém sentado na cadeira da diretora, nem ao seu redor, apenas a luz que entrara pela grandíssima janela por trás da mesa. Meio encolhida olhou ao redor, não havia ninguém no sofá.
De repente uma mão delicada e extremamente gélida tocou seu braço direito. Nathalia virou-se rapidamente e deu um passo para se afastar do toque, fitando a pessoa em sua frente.
A diretora estava trajada com uma roupa negra por completa, a olhava animada e atenta, um sorriso suave surgiu no canto de sua boca quando percebeu o quanto a menina estava tensa. Ao invés de perguntar a si mesma mais uma vez, Nathalia pronunciou em voz alta:
— O que estamos fazendo aqui? É noite! Deveríamos estar em nossas residências.
— Ora, "o que estamos fazendo aqui?" — imitou-a, fazendo uma voz embargada — Eu sou a diretora!
Senhora Veronezi está falando baboseiras, pensou dando mais uns passos para trás, ficando atrás da mesa, hesitante e confusa. Mesmo que tivesse a mesma aparência de sempre, demorou poucos segundos para notar que alguma coisa maligna espreitava atrás dos olhos da mulher. Isso deixou-a atenta, se fosse um pesadelo, estava indo longe demais.
Acorde, Nathalia!
— Não, não... Nathalia — por algum motivo, sussurrou seu nome, dando passos suaves — Aí é o meu lugar, não seu.
Suas palavras soaram obscuras, parecia falar muito mais do que o entendido. A garota já não teve reação, apenas a fitou por um instante, e a mulher simplesmente deu dois passos em sua direção de forma usual, e então sua velocidade aumentou drasticamente. Isso liberou a tensão na mente da mais nova, que lançou seu corpo para a outra direção, contornando a mesa e saindo pela porta.
Com o coração batendo forte em seus ouvidos, escutando passos estralados atrás dos seus, correu desesperadamente pelo corredor.
A sensação de pânico fazia com que o caminho girasse em sua cabeça, como uma espiral. Pensava ouvir vozes sussurrando atrás de si, talvez chamando seu nome, o desespero a impediu de prestar atenção. A paranoia a desesperava mais, e isso faziam suas pernas repetirem o movimento com ainda mais voracidade.
Voracidade, essa que não pôde ser impedida quando um vulto negro apareceu em sua frente, o corpo dela colidiu-se fortemente contra aquilo, sendo jogada para trás. Suas mãos bruscas seguraram seus ombros, forçando-a a encará-lo.
Olhos castanhos escuros olhavam-na famintos, um sorriso assombroso surgiu nos lábios de seu professor de português, senhor Melo. De sua boca escorria aquele líquido escuro, que se misturava a farta barba e pingava na roupa escura, não deixando para trás seu extremo estilo de todos os dias. E quando seus lábios se separam, foram reveladas longas presas afiadíssimas, manchadas pelo líquido escuro.

          Nathalia não teve reação, torceu para acordar antes de ver o que aconteceria a seguir, se, por sorte, fosse um sonho. E mesmo que tenha tentado segurar, seu grito agudo ecoou por toda a escola.

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