Entrevista com a pedagoga e professora de Libras, Marisol Gosse Bergamo.


A Revista Digital Íntegros tem o orgulho de apresentar uma entrevista, imprescindível, feita pelo estudante Martino Bioni Caruso com uma profissional de Libras. Na entrevista, a professora nos esclarece muitas questões que envolvem a pessoa surda.
Apresentamos a Professora Marisol Gosse Bergamo, 55, Pedagoga com habilitação no ensino de alunos com Deficiência da Audiocomunicação, Pós Graduada em Tecnologia Assistiva, Comunicação Alternativa e no Ensino de LIBRAS , Formação Profissional em Psicanálise Educacional e Psicopedagogia com enfase em Necessidades Especiais, Certificação no Exame Nacional de Proficiência em Tradução e Interpretação da LIBRAS/Língua Portuguesa/LIBRAS expedido pelo MEC/UFSC. Atualmente é Professora efetiva de Libras no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da São Paulo - Campus Salto. Experiência profissional como tutora de Pedagogia e no ensino de Informática Educacional para alunos surdos e como Tradutora e Intérprete de Libras. Atuou como membro do GSE - Grupo Surdo de Estudos em Educação da Unicamp, coordenado pela Professora Dra. Regina Maria de Souza. (Informações coletadas do Lattes em 21/10/2019)

Martino - Por que você escolheu a profissão de intérprete de libras?

Marisol - Meu avô era surdo, acho que foi esse o impulso.

Martino - Qual é a maior dificuldade que um surdo passa?

Marisol - Acredito que essa pergunta deveria ser feita para uma pessoa surda mesmo...que utiliza a língua de sinais como meio de comunicação, não posso responder por eles.

Martino - Tem iniciativas para inclusão dos surdos na sociedade?

Marisol - Sim, existe uma iniciativa na educação, mas ainda falta muito, pois apenas colocar intérpretes nas escolas, não é o suficiente.

Martino - Onde eu posso encontrar um curso de libras de graça?

Marisol - Em escolas públicas, aqui em Salto no IFSP.

Martino - Se eu ver um surdo passando dificuldades, o que eu posso fazer?

Marisol - Se você souber se comunicar em Libras, pergunte se ele precisa de ajuda e como você poderia ajudá-lo, ou se ele quer que você interprete a comunicação.

Martino - Qual é a melhor e a pior parte da sua profissão?

Marisol - Gosto muito de ensinar Libras, não tem pior.

Martino - Você, de certo modo, ajuda na socialização e na integração da comunidade surda com a população em geral ou vise versa?

Marisol - Sim, em várias situações, quando não tem intérprete eu procuro ajudar mediando a comunicação. Mas os surdos também me ajudam muito, eles participam das minhas aulas e o convívio com eles é muito importante, pois estou sempre aprendendo e aprimorando a minha comunicação em Libras.

Martino - Surdo sofre preconceito? E se sofre fale alguns preconceitos?

Marisol - Sim, mas velado. As pessoas continuam tendo preconceito, embora não admitam. A sociedade finge que eles não existem, pois não tem intérprete na área da saúde, isso é inadmissível, se um surdo tiver que ir ao médico para se consultar como ele vai se comunicar se não tem nenhum profissional que saiba Libras.

Martino - Em modo geral, o surdo consegue viver normalmente na sociedade?

Marisol - Sim, com ele não existe nenhum problema, mas a nossa sociedade é deficiente por não garantir acessibilidade de comunicação para as pessoas surdas.

Martino - Qual é o maior “perrengue” que você já viu um surdo passar?

Marisol - Na cadeia, pois tive que tirar um surdo da cadeia que havia sido preso por engano.

Martino - Os estabelecimentos em geral têm acessibilidade?
Infelizmente, não tem.

Martino - Libras é uma língua?

Marisol - Sim, com o mesmo status linguístico de qualquer outra língua. No Brasil a Língua Brasileira de Sinais – Libras, foi reconhecida como segunda língua oficial em nosso país. 

Martino - Tem algum tradutor do português para libras?

Marisol - Sim, existem vários aplicativos, mas nenhum irá substituir o trabalho humano dos intérpretes.

Martino - Libras é algo universal ou não?

Marisol - Libras não é uma língua Universal, cada país tem sua própria língua de sinais.

Martino - Surdo consegue aprender português e outros idiomas faladas e escritas?

Marisol - Sim, se tiver um professor Bilingue.

Martino - Por que tem alguns surdos que conseguem falar e ler lábios e outros que não conseguem?

Marisol - São vários fatores, primeiro depende do grau da perda auditiva, segundo da época, se nasceu surdo ou se perdeu a audição depois, terceiro se fez terapia fonoaudiológica, entre outros...

Martino - Os surdos têm acessibilidade ao entretenimento?

Marisol - Não, dificilmente. Os filmes brasileiros não têm legendas, músicas ainda são poucos cantores que se preocupam em contratar um intérprete em shows e os surdos não vão ao teatro e outros eventos culturais por não ter acessibilidade de comunicação.

Martino - Qual é a maior dificuldade que você passou sendo intérprete?

Marisol - Ter que separar uma briga entre dois alunos surdos.

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